SOBRE O EVENTO
Em um panorama de enfrentamento à pandemia da covid-19, à intensa crise do capitalismo global e ao desgaste da democracia representativa brasileira, identificamos o quão urgente e propício é seguir pautando a educação como ferramenta de transgressão do status quo e emancipação de consciências e corpos que historicamente foram condicionados à exploração, marginalização e subalternidade. Pensar a educação como alternativa à realidade desigual que estamos vivenciando tem exigido, para além de um enaltecimento generalizado da mesma, a estratégica sinalização de suas metodologias e objetivos. Ou seja, além de evocar a potência da educação, cabe apresentar nitidamente suas características, a quais demandas sócio-políticas esta deseja atender e por quais caminhos esta deve se estruturar.
Em vista disso, o IV Seminário Regional de Ensino e Relações Étnico-raciais com o tema Travessias decoloniais na Educação: Entre desafios e possibilidades transgressoras, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB – Campus Paulo Freire) é uma tentativa de corroborar com debates educacionais — de espaços formais e não-formais — que se propõem decoloniais, antirracistas, antisexistas, anti-imperialistas, anticapacitistas, democráticos, para a diferença e pela liberdade.
Nesse sentido, privilegiando o debate étnico-racial, o evento propõe-se interseccional na medida em que compreendemos que as opressões se consubstancializam. Desta forma, ao suscitar desafios e possibilidades de uma educação que se propõe transgressora e decolonial, almejamos provocar um encontro transdisciplinar de pesquisas que contemplem a diferença a partir da perspectiva de raça, etnia, gênero, sexualidades e inclusão, com participação aberta a toda comunidade.
O evento será realizado nos dias 20, 21 e 22 de Outubro, no formato online.
SIMPÓSIO 1
RAÇA E PERIFERIA: A mão (in)visível do Estado
Raça e periferia têm sido alvo de pesquisas nos mais variados âmbitos científicos, culturais e artísticos, promovendo um debate acerca do controle, da exclusão e até da necropolítica dos corpos, seja na área formal, não-formal ou informal da Educação. Paira, nesse campo, a constante sombra da homogeneização da cultura brasileira sob o olhar do colonizador ocidental. Para além disso, no fracasso das propostas "civilizadoras", há também a constante tentativa de desacreditar, descartar, destruir as manifestações periféricas, com seu incrível potencial de diversidade e resistência. Partindo dessas premissas, nesse o ST serão aceitas as pesquisas que tratam dessas questões em perspectivas decoloniais promovendo e provocando um exercício ético, estético e político de reflexão sobre territorialidades, manifestações culturais, ações comunicacionais, corporalidades, saberes tradicionais, cotidianos e epistemologias das comunidades periféricas em diálogo com autores que promovam essa reflexão tais como: Sandra Petti, Franstz Fanon, Homi Bhabha, Néstor García Canclini, Boaventura de Souza Santos e Achille Mbembe.
Coordenação: André Domingues e Maria José Almeida Santiago.
SALA 1: https://meet.google.com/ubw-muyr-vjh
Dia: 21/10 às 14:00
SIMPÓSIO 2
A ESCRITA COMO FLECHA: Autorias e epistemologias indígenas de resistência
O presente simpósio temático propõe discussões e reflexões em torno do processo denominado pelos intelectuais indígenas como voz-práxis-autoral, que visa apresentar as narrativas de auto-representação dos sujeitxs indígenas através dos movimentos de militância dos povos e, dos escritores indígenas em movimento, numa perspectiva de produção autoral que tem como cerne a desconstrução das narrativas hegemônicas e das imagens estereotipadas acerca do ser indígena. Do mesmo modo, reconhecer as elocuções e representações do indígena pelo indígena e o transbordamento das narrativas auto-representativas como exercício de luta e resistência, guiadas por ações que são escriturais e políticas, numa poética de re-existência que se faz subversiva da ordem dominante, por meio dos deslocamentos e fissuras presentes através da escrita e da Literatura Indígena que se constitui de maneira diferente daquilo que é concebido e canonizado pelo ocidente, em diálogo com intelectuais e teóricos como Jaques Derrida, Gilles Deleuze, autores decoloniais como Homi Bhabha e Gayatri Chakravorty Spivak e intelectuais e escritores indígenas como Daniel Munduruku, Linda Tuhiwai Smith, Graça Graúna e Julie Dorrico.
Coordenação: Adriana Pesca Pataxó, Adressa Viana e Ednajara Pesca Pataxó
SALA 1: https://meet.google.com/ubw-muyr-vjh
Dia: 20/10 às 14:00
SIMPÓSIO 3
HISTÓRIAS CRUZADAS: Africanos e indígenas no Sul da Bahia do século XIX
Algumas pesquisas centradas no século XIX no Brasil, mostram-nos o quanto os grupos indígenas e negros estavam a margem de um projeto social de nação que se ensejava, os grupos marginalizados encabeçaram movimentos insurrecionais que se não buscassem inserir-se em um projeto de nação, buscavam espaços de autonomia. Considera-se como perspectiva teórica a chamada “Nova História Indígena” (ALMEIDA,2017; MOREIRA, 2017) e seus diálogos interdisciplinares e a História Social (MACHADO 1988; REIS & GOMES,2006). Este Simpósio Temático busca congregar pesquisas que analisam os espaços de resistência forjados por africanos e seus descendentes bem como sobre os diversos povos indígenas que já povoavam o Sul da Bahia ao longo do século XIX e desenvolveram modos de minimamente sobreviver dentro de um processo de esbulho de terras e violências. Desta forma, serão bem-vindos trabalhos que tratem das estratégias empreendidas por africanos, afro-brasileiros e indígenas no século XIX, presença e resistências de escravizados, livres e indígenas no Sul da Bahia.
Coordenação: Aretuza da Cruz Silva e Ramom Pereira de Jesus Moreira
SALA 1: https://meet.google.com/ubw-muyr-vjh
Dia: 20/10 às 14:00
SIMPÓSIO 4
AS INTERFACES DA RACIALIZAÇÃO NA SAÚDE DA MULHER SUBALTERNIZADA:
docilização dos corpos, auto-medicação e a
restrição do acesso aos serviços de saúde.
Frantz Fanon afirma que o racismo do negro pelo negro é fator de adoecimento psíquico. O negro afrodescendente colonizado interpretava um papel que lhes foi imposto socialmente, mas em seu íntimo, não eram o que interpretavam e acabavam, por também, negarem a sua identidade, motivando uma existência de dor e conflitos internos que levavam ao adoecimento psíquico. O racismo, afeta portanto, a saúde mental e por consequência a saúde física da população afrodescendente. Por conseguinte, Ballestrin (2017) traz o conceito de feminismo subalterno, ao afirmar existem peculiaridades entre os feminismos do hemisfério norte e do sul, considerando que as mulheres de países colonizados, além do machismo enfrentam o racismo e as mazelas sociais. Assim, propomos a busca de conhecimentos em relação às assimetrias que influenciam a saúde da mulher e acentuam as disparidades étnico-raciais, como o status socioeconômico, aculturação, o racismo. Este simpósio Temático propõe, portanto, três eixos a serem trabalhados sobre as relações étnico-raciaise saúde da mulher: A hiper medicalização dos corpos femininos subalternizados; A dificuldade de acesso aos serviços de saúde pública, impostos às mulheres subalternizadas;A prática de automedicação por mulheres subalternizadas.
Coordenação: Fernanda Abreu Marcacci e Gabriela Prado Ramos Barros
SALA 2: https://meet.google.com/hhb-tfnm-mfb
Dia: 21/10 às 14:00
SIMPÓSIO 5
A DISCUSSÃO ÉTNICO-RACIAL NA FORMAÇÃO INICIAL DOCENTE
A discussão étnico-racial nas últimas décadas tem sido ampliada em diferentes campos sociais, por compreender uma dimensão necessária de debates e reflexões na contemporaneidade em favor das populações racializadas na sociedade. Nesse sentido, o grande campo da educação tem sido direcionado a integrar tais discussões em seus níveis de ensino, em que a partir das políticas de ações afirmativas, se tem a presença de avanços resultantes de um processo de resistência. Com base nessas considerações, este Simpósio Temático (ST) prioriza a discussão étnico-racial na formação inicial docente, entendendo este processo como uma das muitas travessias posta no itinerário formativo do educador, que tende a ser um agente de (trans)formação de realidades. Portanto, o respectivo ST, tem por interesse fomentar um debate que verse sobre os desafios e possibilidades de um processo formativo que se implique com a promoção de uma consciência profissional que compreenda a relevância da educação para as relações étnico-raciais. Assim, esta proposta visa acolher pesquisas em andamento ou já concluídas, bem como relatos de experiências de estudantes de licenciaturas, que versam sobre a formação inicial docente, a exemplo de práticas de estágio supervisionado, residência pedagógica, Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID), entre outras.
Coordenação: Juscimara Carvalho Pereira
SALA 1: https://meet.google.com/ubw-muyr-vjh
Dia: 22/10 às 14:00
SIMPÓSIO 6
O LIVRO PARA CRIANÇAS E JOVENS E AS RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS
O debate sobre as produções literárias para crianças e jovens publicados no Brasil vêm ganhando novos rumos e enfoques nas últimas décadas. Discussão sobre o que é qualidade em imagem e projetos gráficos com o olhar mais apurado para questões estéticas, artísticas e inventivas como potência para o leitor têm revelado mudanças importantes tanto no mercado editorial e seus lançamentos e relançamentos, bem como temas de pesquisas acadêmicas. Concomitantemente a estas questões, digamos, mais “atuais”, são urgentes e evidentes as discussões sobre uma verdadeira prática do antirracismo, principalmente nesse setor que por muito tempo deixou às margens as produções negras brasileiras. Assim também não está a faixa dedicada à literatura infantojuvenil e indígenas. Ainda bem, o campo literário é vivo e, por assim ser, não está alheio às possibilidades de mudanças de pensamento já presentes em produções contemporâneas, atingindo até a oportunidade em revisitar obras que não tiveram seu destaque devido pelo mercado editorial e pela crítica literária. Abrimos, assim, muitas perguntas: onde vemos mudanças acontecendo? Quais são elas? Quem são os protagonistas das histórias dentro e por trás dessas produções hoje? Para onde ainda devemos olhar e seguir? Assim, o ST tem como objetivo abrigar reflexões que contemplem obras produzidas no âmbito das Literaturas Infantojuvenis Africanas, Afro-Brasileiras e Indígenas, bem como trabalhos que tematizem o uso destas literaturas em espaços educacionais formais ou não formais. Reflexões, inclusive, que extravasem o campo circunscrito da palavra escrita, para um olhar ainda mais abrangente por qual atravessam as reflexões sobre o livro contemporâneo.
Coordenação: Ananda da Luz Ferreira e Cristiane Rogerio
SALA 2: https://meet.google.com/hhb-tfnm-mfb
Dia: 22/10 às 14:00
SIMPÓSIO 7
EDUCAÇÃO QUILOMBOLA
A Educação Escolar Quilombola tem se tornado um meio de aproximação entre os saberes tradicionais para com as estratégias curriculares e a extensão de mais debates de pesquisa científica, numa perspectiva que possibilita pensar em uma educação para as relações étnico-raciais. Tendo, pois, uma pedagogia que esteja comprometida com reflexões para além das histórias contadas nos livros didáticos, de maneira eurocêntrica e colonizadora, como muito tempo o registro da história dos povos negros/as foi apresentado nos ambientes escolares. Ressalta-se a necessidade de uma pedagogia/pretagogia que traz para o chão da escola, discussões que não estão inseridas no currículo idealizado pela ótica eurocêntrica. Mas, de um currículo que denuncia a ausência de conteúdos referentes à cultura afro-brasileira e a história dos povos africanos. Especialmente as mudanças ocorridas após a promulgação da Lei 10.639/2003, posteriormente na Lei 11.645/2008 e as resoluções que definem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.
Isso posto, o GT propõe discutir o espaço de Educação Escolar Quilombola como um lugar de luta, de resistência e de afirmação de identidade, lugar onde os saberes de um povo sejam anunciados. Neste GT, serão aceitas as pesquisas que tratam dessas questões numa perspectiva decolonial.
Coordenação: Daniela Barreto do Sacramento, Gilsineth Joaquim Santos Silva e Lívia Ferreira Rocha Souza.
SALA 2: https://meet.google.com/hhb-tfnm-mfb
Dia: 21/10 às 14:00
SIMPÓSIO 8
RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADES NA EDUCAÇÃO
Estudos sobre as relações de gênero, sexualidades e relações étnico-raciais, que estão na perspectiva da diferença, antes negligenciados, ascendem, conquistando espaço de debate e se consolidando como campo de pesquisa em diversas áreas do conhecimento. Esta ascensão dá uma visibilidade às diferentes e desiguais realidades das relações sociais no Brasil e faz parte daquilo que hoje é considerado tema premente da contemporaneidade, tanto na pesquisa, como nas pautas de importantes movimentos sociais (feministas, movimento negro, comunidade LGBTQIA+, etc.). Isto posto, compreende-se como estes estudos, ao tempo que analisam a realidade, corroboram para o processo de sua transformação. Desta forma, ao reconhecer que diante das múltiplas identidades de gênero as relações se desenvolvem no sentido de uma construção de redes de poder, este ST almeja abarcar debates sobre as relações de gênero e sexualidades que elucidem sujeitos historicamente subalternizados, reivindicando assim novas narrativas e novas abordagens, apresentando, em consequência disso, os inúmeras problemáticas e demandas, bem como as variáveis possibilidades de inferir e influir socialmente atendendo a uma perspectiva decolonial, anti racista, feminista e anti capitalista. O encontro pretende possibilitar trocas, debates e reflexões a partir da análise teórico-crítica sobre equidade, diversidade, transgressões e liberdade que enfoque perspectiva de gênero e sexualidades, contrastando com relações étnico-raciais, classe e demais interseccionalidades que possam substanciar o debate.
Coordenação: Jamile Stephane Souza e Samara Silva
SALA 2: https://meet.google.com/hhb-tfnm-mfb
Dia: 20/10 às 14:00